Desbravar o universo da inteligência artificial...
Desbravar o universo da inteligência artificial na auditoria interna
Ao longo das últimas décadas, a inteligência artificial tem-se desenvolvido consideravelmente, impulsionada por três fatores principais. O primeiro é a crescente capacidade de computação, o segundo é a profusão de dados gerados pela internet,
e o terceiro, muitas vezes subestimado, é a evolução significativa dos próprios algoritmos usados na computação. Antes de mais, enquanto auditores internos é essencial compreendermos os tipos de algoritmos aplicáveis na inteligência artificial.
Todos os algoritmos são caracterizados pelo deep learning, ou seja, a máquina aprende com os dados sem que haja necessidade de escrever centenas de regras em termos de linhas de programação. Existem cinco grandes tipos de algoritmos associados à inteligência artificial e a este tipo de aprendizagem.
O primeiro é o algoritmo simbolista, vinculado à lógica e à filosofia, que utiliza princípios lógicos para ensinar a máquina.
Outro tipo de algoritmo é o conectivista, derivado da neurociência e relacionado com as redes neuronais. Este tipo de algoritmos procura replicar o funcionamento do cérebro humano e está por trás das ferramentas de inteligência artificial mais conhecidas, tal como por exemplo o Chat GPT.
Os algoritmos evolucionistas replicam a biologia e a evolução natural, utilizando os mecanismos da seleção natural para a resolução de problemas.
Os algoritmos Bayesianos utilizam conceitos que vêm da estatística e das regras de tratamento da análise probabilística.
Por fim, os algoritmos analogistas baseiam-se em conceitos da psicologia e operam segundo princípios de semelhança entre conceitos.
Como auditores internos, devemos estudar esta realidade e aplicá-la de duas formas. Primeiro, para entender as aplicações da inteligência artificial que estão a ser utilizadas, no dia a dia, pelas áreas de negócio das nossas organizações. Em seguida, para compreender como podemos utilizar esses algoritmos na atividade de auditoria interna. De momento, a forma mais imediata de utilização desses algoritmos, utilizando o Chat GPT, visa analisar dados e identificar padrões e tendências que poderiam passar despercebidos. No entanto, existem outras aplicações possíveis, dependendo do setor de atividade, que podem contribuir para a eficácia e eficiência da auditoria interna.
O trabalho em torno da inteligência artificial vai além da compreensão e aplicação dos algoritmos associados. É cada vez mais importante estar vigilante em relação às políticas e procedimentos que regulam internamente o uso dessas ferramentas. Cabe também à liderança da equipa de auditoria manter-se atualizada sobre as novas tendências e integrá-las no planeamento e condução das auditorias.
O Institute of Internal Auditors publicou, em 2023, um quadro normativo para a Auditoria Interna no que toca à inteligência artificial[1]. Este documento é notável por várias razões, uma das quais é a abordagem prática que propõe aos auditores internos.
À medida que as empresas adotam cada vez mais ferramentas digitais, incluindo aplicações web impulsionadas por IA, a necessidade de avaliar e gerir os riscos associados a essas tecnologias torna-se crucial. Algumas organizações estabelecem políticas e procedimentos para supervisionar aspetos específicos da IA, enquanto outras operam sem orientações formais.
Os auditores internos interessados em contribuir para a gestão do risco neste domínio podem desempenhar um papel fundamental, independentemente da existência de políticas formais de IA. Um ponto de partida é promover a adoção de uma estratégia integrada de IA que alinhe o uso dessas ferramentas com os objetivos estratégicos da organização. Essa estratégia deve incorporar princípios éticos, procurar evitar viés nas decisões e considerar os riscos legais associados à utilização destas ferramentas.
O envolvimento proativo dos auditores internos na definição e implementação de políticas relacionadas com IA pode ajudar a garantir que as organizações aproveitam
o potencial dessas tecnologias de forma ética e eficaz, minimizando os riscos associados.
Ao abraçar a inovação, os auditores internos asseguram a eficácia e relevância da auditoria, no meio do turbilhão a que chamamos transição digital.
[1] Consultar https://www.theiia.org/en/content/tools/professional/2023/the-iias-updated-ai-auditing-framework/
Artigo
Hugo Ferreira Domingos | 25 de fevereiro de 2024